jeudi 9 octobre 2008

As perguntas filosóficas dos brasileiros

Peço desculpas pelos erros ou imprecissões, mas o texto foi muito mais um desabáfo do que qualquer outra coisa...


É chavão dizer que cada pensador é reflexo de seu tempo e de sua cultura: que ele utilizava a linguagem da época, que se debruçava sobre problemas que ele enfrentava, provenientes de seu mundo, que vivia! seu próprio tempo. Ninguém discute que Platão era um cara grego, que viveu em não sei em que século antes de cristo; ou que Nietzsche é alemão e que esteve por ai não faz muito.

Mas e nós? sobre que linguagem temos de nos debruçar para podermos pensar? Quais problemas são dignos o bastante para se enquadrarem no escopo da Metafísica, da Ética, da Lógica…? Para entrar na história da filosofia… Será que hoje produzimos alguma filosofia que nos dá identidade, que se debruça sobre nossa linguagem, nossos problemas? Que vive nossos próprios problemas?

As respostas para estas perguntas normalmente são: “vc está querendo equiparar as suas, ou mesmo as nossas questões, com as de Platão, Nietzsche…?” “vc não acha que, para começar a pensar, o que se pensou já está bom?” “Um novo tipo de pensar pra que? Já têm tantos por aí... tanta história!… se filia a uma corrente e vê no que dá... às vezes até dá coisa boa”!

Ou mesmo mais :“vc acredita mesmo que o português falado no Brasil, que foi aqui imposto, e tem nome de outro povo, pode dar conta de falar de coisas como ‘essência da linguagem’, ‘linguagem originária’? “esse mesmo (?): que fala ‘pobrema’, ‘brejela’…vc só pode estar brincando!”

Ou, “será que essa nossa vidinha medíocre: que acorda de manhã pra trabalhar, que come uma ‘malmita’ na rua, e chega em casa de noite, esperando apenas o torpor da novela pra embalar nosso sono… ou o domingo de futebol”. “Não, nossa vida não é digna da filosofia! Nossa linguagem não é boa o bastante! Nosso povo não é digno da metafísica!” “Talvez nem estes aí, os intelectuais, são bons o suficiente… a gente só considera eles se estão voltando de Harvard ou se não os entendemos.”

“Talvez essa metafísica seja digna somente dela mesma!”. “E se é assim, deixa ela lá, e eu aqui!” “Ta tudo muito bem, eles nem são tão caros se vc pensar bem… dá até um ar ‘europeu’ às nossas instituições”.

Estas respostas seriam todas bem pertinentes, e são um grande material de pesquisa filosófica porque eminentemente, muitas vezes, é o que sentimos. Por outro lado, elas são o reflexo de nossa “síndrome de vira-latas”, para usar uma expressão de Nelson Rodrigues. E porque não, são reflexos de nossa constituição história, nosso tempo, nossa linguagem… nossa vida!

Nossa vida cotidiana abdica (ou lhe é imposto essa recusa) da experiência extra-ordinária de pensar, dá possibilidade de incorporar o pensar ao viver, em nome de não ter que pensar… para se debruçar na necessidade de viver (sobreviver)! Mas, para sermos um pouco filosóficos: em todo lugar onde vive o homem é possível pensamento - é possível exercer uma algo a mais que sobreviver; é possível reforçar, intensificar nosso próprio viver…

“ah?! Lá vem a metafísica! Reforçar nossa vida? Pra que? Nossa vida já é ruim o suficiente! Aqui já tá ruim assim! Reforçar o que tem é piorar, ou pelo menos não corresponde ao que eu quero!”.

Como disse o Leo, esse reforço só atrapalha a vida cotidiana, e ordinária; e mais ainda, só cria a possibilidade de desordenamento social, quando é sincero. A possibilidade de desarrumação do que foi arrumado para que parecesse natural, ou para que parecesse o vício de indivíduos isolados: estupradores, ladrões de galinha ou papel higiênico. Ninguém sabe da onde vem ou quem são; na maioria das vezes, nem mesmo eles… Mas, nós, seja pensando filosoficamente, metafisicamente ou não, temos a obrigação de saber. Tai uma questão que nos pertence, porque nós a vivemos. Que se dane a metafísica se não possibilitar pensar nossa vida; e nesse sentido a recusa popular tem algo de justificável. É nosso tempo, nossa parte na história, nossa vida!

O Brasil além de não se achar digno de se pensar, não o faz por medo de expor seus próprios escárnios. Ver que a sociedade que cria a delinqüência é composta por nós. Que quem nos sujeita são os próprio sujeitos autônomos da sociedade que vira e mexe nós somos o porta-voz. Temos medo de expor que parte de nosso pensamento corrobora com toda esta estrutura que privilegiam alguns. Isso mesmo! Que algo em nós, enquanto constituidores dessa (des)ordenação social, tem responsabilidade.

Enquanto o trabalhador quiser ser o burguês, sua vida será sempre uma vida do ainda não; porque uma sociedade não vive só de burgueses, por mais que os pós-modernos queiram… temos querer algo de outro para nós mesmos.

Pensar dá trabalho, dói, transforma… quem quer isso? Quem quer pensar sobre si mesmo como pertencente de algo comum? Quem quer pensar que vive eminentemente com os outros? Quem quer dignificar essa mesma língua que escarna quando alguém erra? Ela é sua, ela é nossa! Quem quer se perguntar, porque nos organizamos tão eficientemente em termos produtivos, e porque ainda vemos pedintes nas ruas? Vivemos com os outros, produzimos com os outros… mas quem é o outro?

O outro é o que, muitas vezes almejamos ser, é o que eternamente não somos… Quem é o outro enquanto nós mesmos, quem é o brasileiro?!