dimanche 27 janvier 2008

Amster - DAMN!!!

Amsterdã – 30 de dezembro – Durante minha curta estadia em Amsterdã, a cidade me surpreendeu enormemente. Os habitantes locais são incrivelmente simpáticos e prestativos caso você precise de alguma informação, todos falando muito bem inglês e muitas vezes alemão. Tenho que confessar que isso me foi de grande ajuda porque nunca estive tão perdido na vida.

A cidade tem uma arquitetura muito peculiar; simples mas elegante. Esse parece ser o princípio que rege toda a cidade. É incrível como algo pode ser, ao mesmo tempo, eficiente e singelo; dando a Amsterdã um ar extremamente peculiar. Os prédios são todos baixos e parecidos, distintos entre si quase que exclusivamente por suas cores. No entanto, em certas regiões, Amsterdan parece uma cidade cenográfica. Andando pelo subúrbio você pode de repente notar que não há nenhuma alma viva perto de você, nem mesmo em seu raio de visão, além de todas as janelas e cortinas estarem fechadas, possivelmente para se proteger do frio e manter a privacidade.

O certo é que se você não se sentir confortável com esse tipo de solidão provocada pela cidade nesses momentos, e pela maneira apropriada de se portar nela; ela pode lhe proporcionar certa tristeza. Sim, apesar de todos aparentemente fazerem o que querem, a cidade reclama por uma maneira de portar-se em cada lugar; mesmo que este lugar seja um coffeshop...

Aqui tudo tem seu lugar. Por incrível que pareça, Amsterdan me deu a impressão de ser a cidade mais “Apolínia” que eu já vi. Todas as aparições do “Dionisíaco” estão reservadas a espaços circunscritos. “Perder a linha” em Amsterdã parece ser uma questão de colocar-se de acordo com determinados espaços, de fato, a cidade não se sustentaria apenas na base do carnaval o ano inteiro. A impressão que fica é que isso é coisa de turista, e não poderia ser de outro jeito. Por bem ou por mal, essa regulação subterrânea de Apolo sobre a cidade é o que a sustenta, apesar de, por sua natureza, não ser muito visível aos olhos de quem passa rapidamente. É nesse equilíbrio maluco de natureza, arquitetura e maneira de portar-se que Amsterdã pode lhe proporcionar a mais feliz das solidões.

As pessoas aqui, estranhamente ou não, não olham muito umas pras outras. Tudo parece ter seu lugar apropriado de acontecer, e nesse lugar, pode se usufruir da maneira que se bem entende, desde que não atinja os limites do outro.

A minha ida ao Museu Van Gogh foi igualmente boa e frustrante, se é que isso é possível. Depois de um vôo de 12 horas, quase que inteiro sem dormir, estava exausto já na entrada. O Museu segue o estilo da cidade, conciso em sua aparência exterior e rico em seu interior. Sendo assim, as obras são incríveis! Primeiro são apresentados alguns quadros de artistas que tiveram influência sobre Van Gogh, e depois a coleção permanente é organizada pelo período de composição. Um dos quadros, onde uma lavradora colhe batatas me proporcionou uma experiência fantástica. Realmente é possível sentir todo pesar expresso no quadro.

Entretanto, não gostaria de fazer desse relato um exercício analítico das obras, até porque não sei o quanto me sinto capaz, e o quanto ele seria valido. O mais importante é que são muitos os quadros que valem a viajem pela experiência que proporcionam.

Contudo, nem tudo são girassóis e experiências originárias, o Museu estava abarrotado de gente durante todo o tempo da minha estada. Um fluxo contínuo pelos quadros, possivelmente ditado pelo guia (aparelho de áudio que poderia ser solicitado na entrada), faz com que algo externo as obras dite o ritmo da experiência que ela lhe proporciona. Ou melhor, esse ‘fluxo de vida cronômetrada’ tem um ritmo de batalha, é o WAR dos Museus. Objetivo: conquistar o mundo em 1:30! Geralmente bem sucedido, dependendo da profundidade da experiência que se deseja ter com as obras.

Não me submeti aos ditames do guia eletrônico, mas tive certamente que pagar o preço. Quando você tenta romper o fluxo, as pessoas muitas vezes entram na sua frente, sem a menor cerimônia. Minto, preocupadas em não encostar em você, o que na cabeça delas é muito mais grave que ficar na frente da obra que você está olhando. Certamente não o fazem de maneira rude, todavia, incomoda e irrita, especialmente quando você está próximo de um quadro que julga belo.

Três outros quadros me foram especialmente caros. Dois auto-retratos onde a mão de Van Gogh parece se confundir com as cores da paleta dando uma sensação de que tudo está em uma unidade bem particular. Em um deles Van Gogh está pintando um girassol e a tinta do pincel se confunde gentilmente com as camadas de sua técnica. É realmente impressionante a vivacidade dos quadros! Eu não sei se a arte imita a vida, ou a arte recria, recoloca, reinstaura os limites da vida... só se sei que os quadros falam por eles mesmos.

Um outro quadro me pareceu a manifestação mais evidente do que Heidegger coloca em seu ensaio “A Origem da Obra de Arte”, o embate de Terra e Mundo. No centro do quadro se encontra um lavrador que, ao levantar o feno, parece ao mesmo tempo perdê-lo entre as mãos. Seu esforço apesar de evidentemente “ineficiente” é o que existe de mais verdadeiro e honesto porque, a medida em que recolhe também sabe da necessidade de perder o que busca, assim como de ganhar-se e perder-se no próprio fazer.

No entanto, tenho que confessar que fui vencido na guerra, e o incomodo da multidão superou minha obstinada paciência. Assim sendo, me dirigi a uma exposição paralela chamada “Barcelona 1900”. Nela haviam varias obras de artistas espanhóis do século XIX e XX, que a sua maneira retratavam um pouco da cidade de Barcelona. A exposição é extremamente prazerosa, alguns dos artistas me impressionando bastante (como não anotei os nomes, não dá pra citar...). Um detalhe engraçado foi que na seção comercial havia um vídeo sobre a cidade de Barcelona hoje. Vários turistas permaneciam ali assistindo, em um atitude até agora incompreensível. Talvez as coisas pareçam mais bonitas na TV mesmo…

Saindo do Museu Van Gogh fui tentar encontrar meu Albergue, que descobri ser bem longe do centro. Resolvi ir andando até a estação onde poderia pegar o Tram certo, depois de frustrantemente perguntar por informações e pegar dois Trams errados. Tram é o nome do metro de superfície. Enfim, não sei se foi uma boa idéia porque andei pra caramba, o que foi bom pra conhecer a cidade. Quando finalmente peguei a linha 14, descobri que estava indo para o lado errado, depois de uns 15 minutos. Peguei o mesmo Tram, agora do lado certo, e fiz o caminho de volta, mais o pedaço que faltava até o albergue. Eu praticamente atravessei o centro de Amsterdan todo nesse Tram! Além disso, nesse momento percebi que tinha que pagar. Genial! Minha brasileira conclusão: algumas linhas têm de pagar outras não. Descobri depois ledamente que estava errado…

Enfim, o certo é que consegui chegar ao albergue; morto de cansaço, mas a salvo. Primeira providência que tomei, constatando a conjuntura foi: sair. Se eu ficasse lá ia dormir na certa. Deixei minha bolsa no locker, e incrivelmente, depois de tanta luta, voltei pro lugar que eu estava antes. Agora com a certeza que saberia voltar pelo mesmo caminho.

Tomei umas cervejas num bar onde a máquina de fazer neblina quebrou e deixou o lugar inabitável, daí resolvi voltar pro albergue. Chegando lá, estava com tanto sono que, na sonseira, passei na frente do Tram que eu havia decido! Alguns alemães ficaram me zoando, pelo menos foi isso que eu entendi né… De qualquer forma, estava muito cansado pra dizer alguma coisa. Fui direto dormir.

Sai cedo no outro dia e, novamente, com um mapa na mão, me perdi tentando achar o trem certo. Quando finalmente consegui, pedi informação pra um Argelino que me explicou como chegar no Aeroporto em francês. Nessa hora eu percebi, to fudido em Paris!

No trem, pro meu azar, notei que deveria ter pago, já que um cara apareceu controlando os bilhetes. Disse a ele que não tinha achado o lugar de comprar, o que era parcialmente verdade, porque os únicos lugar que vendiam o ticket eram apenas pra cartão, e perguntei se poderia comprar ali mesmo. Ele disse que não, e que normalmente eu teria que pagar 30 ou 40 euros pela multa, não lembro ao certo. Ele falou que ia relevar mas que eu descesse na próxima estação.

Uma moça muito bonita e simpática que estava ao meu lado se ofereceu pra me acompanhar até o aeroporto e comprar o meu ticket (eu dando o dinheiro pra ela logicamente, por que ai já era de mais!); me disse ainda que foi “a cagada”o que tinha acontecido comigo. Foi ai que eu entendi que as passagens eram vendidas em algumas estações apenas em máquinas, que nem aceitavam dinheiro mais. Bom, depois de tanto andar de graça eu finalmente entendi, mas já tava no aeroporto indo embora mesmo, acho que vou deixar pra pagar na próxima…

Bjao pra todos

4 commentaires:

Uliana a dit…

Dani,
Fenomenal o seu relato.
E quantas aventuras em apenas 24h!!!
Continue nos alimentando com as suas experiências!!!
Grande abraço!!

Stefan Furtado a dit…

puorra
ainda bem q saiu vivo ne negao
e as aventuras soh comecaram... que venham as proximas!!!
=*

Hiran Pinel a dit…

Narras muito bem bem, parecia que eu estava lá (ai), mas com certeza, eu ia dormir quando chegasse ao albergue e ponto final. Voce já é lúcido e experienciar é sua meta-aí. Abraços.

Leonardo Machado a dit…

Fala mlk. Cara, ri muito com a histório dos tickets... vc tá mó brasileiro, auheiaeuhaehiuheei.
Obrigado pelo detalhamento da experiência no museu... ter a acesso apenas à reprodução de grandes obras definitivamente não pode ser a mesma coisa, a mesma aura - olha Walter Benjamin aí.
Continue em contato, hein mlk.
Grande abraço irmão, saudade de vc.